Ela acreditava em anjo e porque acreditava, eles existiam.

 (Clarisse Lispector)


"Anjo: (do latim angelus e do grego ággelos (ἄγγελος), mensageiro), segundo a tradição judaico-cristã, a mais divulgada no ocidente, é uma criatura celestial, acreditada como sendo superior aos homens, que serve como ajudante ou mensageiro de Deus. Na iconografia comum, os anjos geralmente têm asas de pássaro e uma auréola. São donos de uma beleza delicada e de um forte brilho, e por vezes são representados como uma criança, por terem inocência e virtude. Os relatos bíblicos e a hagiografia cristã contam que os anjos muitas vezes foram autores de fenômenos miraculosos, e a crença corrente nesta tradição é que uma de suas missões é ajudar a humanidade em seu processo de aproximação a Deus."

Foto do anjo antes do restauro

Esta linda obra de porcelana italiana chegou até mim perto da época de Natal, um belo presente adiantado! E como dizem por aí "um anjo caiu do céu", este caiu no chão mesmo, e quebrou em 5 partes, com alguns pedaços faltantes.
Depois de pesquisar bastante como foi fabricada na Itália - por uma empresa famosa "Villari" (Capodimonte), pude fazer a restauração completa da peça, recuperando sua textura e cor originais.

Foto do anjo restaurado

Com essa imagem maravilhosa, desse delicado anjo italiano, desejo a todos um excelente Natal , cheio de sentimentos verdadeiros de paz e amor.










Os pássaros no céu de Israel



O restauro desta tela foi muito especial, adorei fazer.
Foi através deste blog que a Victoria, proprietária da obra, uma excelente designer de interiores, chegou até mim. E eu fiquei muito feliz por isso.
Apesar de ter dado um trabalho danado, o resultado ficou ótimo. Quem diria que eu encontraria até passarinhos voando no céu !

Por essas e outras surpresas que eu amo ser restauradora.

Limpeza da tela

Detalhe da tela antes da limpeza e da fixação dos craquelês


Fixação dos craquelês


Detalhe tela restaurada e um dos passarinhos voando


Tela pronta






Regulamentação da profissão do conservador-restaurador




É quase inacreditável que a profissão de conservador/
restaurador ,tão importante para o país e seus bens culturais ainda não era regulamentada. Qualquer pessoa poderia dizer ser um " restaurador " , não tendo uma formação ou experiência suficiente para tal.
Mas ainda bem que com muita insistência das associações como a ABER, APCR e ABRACOR , finalmente no dia 15 de julho de 2010 o deputado Mauro Nazif (PSB-RO), apresentou o parecer favorável à votação do projeto de lei que, nos termos defendidos pelas associações, regulamenta a profissão.
Nessa data, foi apresentada à Câmara dos Deputados um novo parecer relativo aos dois projetos de lei que tramitam na Casa desde 2008. O novo texto, que esperamos ser definitivo, apresenta um Substitutivo aos projetos de lei nº 4.042 e nº 3.053, de 2008. O novo texto considera a proposta que unificou os dois projetos, apresentada no ano passado por representantes da categoria. Foi aprovada, por unanimidade, a inclusão, no PL nº 4.042/2008, dos arts. 3º e 5º do PL nº 3.053/2008. Os dispositivos versam sobre o técnico em conservação-restauração, sua formação e atribuições.
Agora, há um prazo para emendas ao substitutivo de 5 sessões ordinárias, a partir de 19/07/2010. O texto do parecer determina, ainda, que o Presidente da República regulamente a lei no prazo de noventa dias. Diz, também, que a lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Aguardamos o parecer definitivo , para que enfim sejamos reconhecidos e para que todos os profissionais atuem conforme a regulamentação.

Para saber mais :









Uma idéia maravilhosa


Parabenizo a iniciativa e a idéia genial da produtora cultural Ana Maria Xavier, idealizadora da exposição patrocinada pela Racional Engenharia, que mostrará a história do teatro Cultura Artística, desde a sua inauguração em março de 1950 até o incêndio, em agosto de 2008 e a sua restauração. O teatro é uma referência na produção musical e teatral da cidade de São Paulo, e possui na sua fachada o painel de Di Cavalcanti de grande valor histórico e artístico.



Além da parte histórica, haverá a transmissão de imagens em tempo real do processo de restauro do painel. Esse é sem dúvida o grande diferencial desse projeto: o acompanhamento pelo público do andamento da obra de restauro, algo inédito em exposições, afirma Ana Maria Xavier. A exposição, apoiada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura , transformará os tapumes da obra do Teatro em painéis de fotos e vídeos sobre a sua história e sobre o painel de Di Cavalcanti. 

Na fachada do Teatro Cultura Artística desde a sua inauguração em 1950, o painel “Alegoria das Artes” escapou das chamas que consumiram a casa em 2008, mas ficou também muito prejudicado, ele já vinha se degradando com o tempo e o incêndio provocou estufamentos e fissuras, necessitando assim de restauração especializada.

Seria muito bom que se repetisse mais vezes esse exemplo de exposição, como uma forma de divulgar e de criar interesse nos cidadãos pelo seu patrimônio histórico e cultural e também pelo tão importante e minucioso trabalho de restauração.

Exposição História e Restauração do Teatro Cultura Artística :
Funcionamento: Todos os dias, das 09h às 17h
Visitação gratuita

Para agendar as visitas:
Telefone: 11 - 5083-4360



As pinturas mais antigas dos apóstolos de Jesus


Pintura do apóstolo Pedro é vista em um ramal das catacumbas de Santa Tecla, obra foi descoberta por meio da utilização de tecnologia a laser


Em Roma, arqueólogos e restauradores de arte usando nova tecnologia a laser descobriram o que acreditam ser as pinturas mais antigas dos rostos dos apóstolos de Jesus Cristo. As imagens encontradas em um ramal das catacumbas de Santa Tecla, perto da Basílica de São Pedro, do lado de fora das muralhas da Roma antiga, foram pintadas no fim do século 4 ou início do século 5. Os arqueólogos acreditam que essas imagens podem estar entre as que mais influenciaram os retratos feitos por artistas posteriores dos mais importantes entre os primeiros seguidores de Cristo.
"São as primeiras imagens que conhecemos dos rostos desses quatro apóstolos", disse o professor Fabrizio Bisconti, diretor de arqueologia das catacumbas de Roma, que pertencem ao Vaticano e são administradas por ele.
Os afrescos eram conhecidos, mas seus detalhes vieram à tona durante um projeto de restauração iniciado dois anos atrás e cujos resultados foram anunciados nesta terça-feira 22/06 , em coletiva de imprensa.
Os ícones de rosto inteiro incluem as faces de São Pedro, Santo André e São João, que fizeram parte dos 12 apóstolos originais de Jesus, e São Paulo, que se tornou apóstolo após a morte de Cristo. As pinturas possuem as mesmas características de imagens posteriores, como a testa enrugada e alongada, a cabeça calva e a barbicha pontuda de São Paulo, o que indica que podem ter sido as imagens nas quais os retratos posteriores se basearam.
Os quatro círculos, com cerca de 50 centímetros de diâmetro, estão no teto do local do sepultamento subterrâneo de uma mulher nobre que se acredita que tenha se convertido ao cristianismo no fim do mesmo século em que o imperador Constantino legalizou a religião. Bisconti explicou que as pinturas mais antigas dos apóstolos os mostram em grupo, com rostos menores cujos detalhes são difíceis de distinguir. "Trata-se de uma descoberta muito importante na história das comunidades cristãs primitivas de Roma", disse Bisconti.
"Cirurgia" a laser :
Os afrescos dentro do túmulo, medindo cerca de 2 metros por 2 metros, estavam recobertos de uma pátina espessa de carbonato de cálcio pulverizado, provocada pela umidade extrema e a ausência de circulação de ar.
"Fizemos análises extensas e demoradas antes de decidir qual técnica empregar", disse Barbara Mazzei, que chefiou o projeto. Ela explicou como usou um laser como "bisturi ótico" para fazer o carbonato de cálcio cair sem prejudicar a tinta. "O laser criou uma espécie de miniexplosão de vapor quando interagiu com o carbonato de cálcio, levando este a se destacar da superfície." O resultado foi a clareza espantosa das imagens, antes opacas e sem nitidez. As rugas na testa de São Paulo, por exemplo, estão nítidas, e a brancura da barba de São Pedro ressurgiu. "Foi uma descoberta de forte impacto emocional", disse Mazzei. Outras cenas da Bíblia, como a de Jesus convocando Lázaro a levantar-se dos mortos ou Abraão preparando-se para sacrificar seu filho, Isaac, também ficaram muito mais claras e nítidas. "No que diz respeito a pinturas no interior de catacumbas, estamos acostumados a ver pinturas muito pálidas, geralmente brancas, com poucas cores. No caso das catacumbas de Santa Tecla, a grande surpresa foram as cores extraordinárias. Quanto mais avançamos, mais surpresas encontramos", disse Mazzei.
Situado num labirinto de catacumbas sob um prédio moderno, o túmulo ainda não está aberto ao público devido às obras que continuam, à dificuldade de acesso e ao espaço limitado. Bisconti disse que as novas descobertas serão abertas apenas à visitação de especialistas, por enquanto (por Philip Pullella).





Oficina Conservação de filmes e vídeos


Pessoal, achei bacana e estou repassando para os interessados em filmes e vídeos .

Desde o surgimento do cinema, no final do século IX, até os dias de hoje, a imagem em movimento conquistou espaços cada vez mais expressivos em nossa sociedade. Especialmente para a cultura ocidental,
o mundo tornou-se
inimaginável sem o cinema, a televisão, os vídeos e DVD.

Um Arquivo Audiovisual tem a difícil missão de conservar um dos objetos mais representativos da cultura do último século e ao mesmo tempo um dos objetos mais frágeis que a humanidade já criou. Filmes, vídeos, DVD são materiais delicados e exigentes que só sobrevivem por tempo museológico através de ações permanentes de conservação preventiva. Um Sistema de Conservação para acervos audiovisuais deve ser pertinente ao tipo de material que trabalha no que se refere a sua guarda, manipulação e acesso. Para isso, é fundamental que conheça cada um desses objetos, reconheça as formas de deterioração e seus agentes, e seja capaz de tomar as atitudes necessárias para manter a integridade do objeto e das informações nele contidas.

Por causa dessas questões de relevada importância, a Associação de Arquivistas de São Paulo, ARQ-SP, estará promovendo nos dias 24 e 25 de junho a Oficina Conservação de filmes e vídeos, dando continuidade à programação 2010 do Projeto Como Fazer. Este curso tem um caráter extensivo; seu objetivo é dar uma visão panorâmica das questões fundamentais da conservação de acervos audiovisuais e situar o aluno dentro de um universo, em geral, pouco conhecido. Embora seu programa seja denso, a intenção do curso não é formar técnicos, mas antes oferecer ferramentas para que o aluno saiba buscar os caminhos mais coerentes ao desenvolver um trabalho de conservação audiovisual.

A oficina será ministrada pela professora Maria Fernanda Curado Coelho, que é bacharel em Comunicação Social e especialista em Cinema, Rádio e TV, pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP; pós-graduada em Museologia pelo Instituto de Museologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP e mestra em Conservação Audiovisual pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. Trabalha com acervos audiovisuais desde 1979, principalmente na Cinemateca Brasileira, onde desenvolveu atividades nos setores de Preservação e Restauração e ocupou o cargo de Coordenadora de Preservação até novembro de 2008. Tem prestado assessoria a diversas instituições em todo território nacional.

O curso está voltado a profissionais que atuam em arquivos, bibliotecas, centros de documentação, museus e instituições congêneres, que tenham sob sua responsabilidade acervos de filmes ou vídeos que precisam ser preservados, estudantes e interessados em geral.

Data: 24 e 25 de junho (5ª e 6ª feira) Horário: das 9:30 às 12:30 e das 13:30 às 16:30 horas

Local: Departamento de História - FFLCH/USP – Av. Prof. Lineu Prestes, 338(Cidade Universitária) - SALA N (sede da ARQ-SP)

Informações e inscrições:
http://www.arqsp.org.br/?&keyword=ARQ-SP+Principal


Fica aí minha dica para vocês.



Um abraço,  




Código de ética


CÓDIGO DE ÉTICA DO CONSERVADOR /RESTAURADOR

1. Relação com os bens culturais
1. Toda a atuação do conservador-restaurador deve ser orientada pelo absoluto respeito ao valor e significado estético e histórico, bem como à integridade física dos bens culturais que lhe estejam afetos.
2. O conservador-restaurador deve contratar e empreender apenas os trabalhos que possa realizar com segurança, dentro dos limites de seus conhecimentos e dos equipamentos de que dispõe, a fim de não causar danos aos bens culturais, ao meio ambiente ou aos seres humanos.
3. Sempre que for necessário ou adequado, o conservador-restaurador deve consultar especialistas de qualquer uma das atividades que lhe complementem a atuação, envolvendo-os em ampla troca de informações.
4. Em qualquer situação de emergência onde um bem cultural esteja em perigo iminente, o conservador-restaurador deve dar toda a assistência possível, independentemente de sua área de especialização.
5. O conservador-restaurador deve levar em consideração todos os aspectos relativos à conservação-preventiva, antes de intervir em quaisquer bens culturais e sua iniciativa deverá restringir-se apenas ao tratamento necessário.
6. O conservador-restaurador, em colaboração com outros profissionais relacionados com a salvaguarda dos bens culturais, deve levar em consideração a utilização econômica e social dos bens culturais, enquanto salvaguarda desses mesmos bens.
7. Em qualquer trabalho executado em um bem cultural o conservador-restaurador deve envidar esforços para atingir o máximo de qualidade de serviço, recomendando e executando aquilo que julgar ser o melhor no interesse do bem cultural, independente de sua opinião sobre o valor ou qualidade do mesmo e sempre de acordo com o princípio do respeito e da mínima intervenção possível.
8. É obrigação do conservador-restaurador realizar intervenções que permitam, no futuro, outras opções e/ou futuros tratamentos, não devendo a forma de utilização e os materiais aplicados interferir, sempre que possível, com futuros diagnósticos, tratamentos ou análises. Os materiais aplicados devem ser compatíveis com aqueles que constituem os bens culturais e devem ser evitados produtos e materiais que ponham em risco a integridade da obra.
9. O conservador-restaurador nunca deve remover materiais originais ou acrescidos dos bens culturais, a não ser que seja estritamente indispensável para a sua preservação, ou que eles interfiram em seu valor histórico ou estético. Neste caso será retirada uma amostra, que embora mínima, possibilite a identificação do problema. Para tal, será solicitado o consentimento do proprietário ou responsável legal. O material removido deve ser, se possível, conservado, como parte da documentação do bem cultural.
10. Na compensação de acidentes ou perdas, o restaurador não deve, eticamente, encobrir ou modificar o que existe do original, de modo a não alterar suas características e condições físicas após o evento.
11. É responsabilidade do conservador-restaurador manter-se atualizado frente ao progresso, as pesquisas e inovações desenvolvidas em seu campo de trabalho, bem como buscar constantemente o aprimoramento de seu discernimento, bom senso, habilidades e perícia.
12. Sendo responsável pela proteção, guarda e preservação do objeto que lhe foi confiado, o conservador-restaurador não deve contratar, ou admitir em sua equipe, pessoas insuficientemente treinadas, a não ser que possa estar permanentemente presente na constante supervisão dos trabalhos.
13. Nos casos em que a utilização ou exposição de um bem cultural seja prejudicial à sua preservação, o conservador-restaurador deve alertar o proprietário ou seu responsável legal dos riscos a que este está submetido. Havendo necessidade de reproduzir uma obra removida de seu local de origem, esta reprodução deverá ser feita por um especialista, evitando o uso de materiais e procedimentos nocivos à obra original.


2. Pesquisa e Documentação
14. Antes de iniciar qualquer ação ou intervenção em uma obra o conservador-restaurador deve colher todas as informações capazes de gerar e salvaguardar o conhecimento a seu respeito, além de levar a cabo um acurado exame de sua composição e estado de conservação, recorrendo para isto, se necessário, a instituições e técnicos de outras áreas, nacionais ou internacionais. Os resultados desse exame devem ser extensamente anotados e documentados, fotograficamente, por meio de gráficos, mapas, tabelas e análises estatísticas. Baseado nestes dados, o restaurador elaborará um relatório sobre a peça e estabelecerá o procedimento a ser seguido, o qual deverá ser apresentado ao proprietário ou guardião legal do bem.
15. Durante o tratamento devem ser anotadas todas as intervenções de conservação-restauração, como produtos químicos (com a proporção ou percentagem de cada componente, da mistura) e técnicas empregadas, seus efeitos e resultados, bem como quaisquer informações consideradas relevantes. A documentação fotográfica deverá acompanhar os passos mais expressivos do tratamento e registrar o efeito final da obra após o término do trabalho.
16. Esta documentação poderá ser apresentada em congressos ou publicada em periódicos técnicos. Deverá, ainda, ser fornecida sob a forma de relatório, ao proprietário ou responsável legal pelo bem cultural, aos curadores de museus e instituições. Entretanto, no caso de pessoas sem o devido conhecimento técnico, não é aconselhável o fornecimento da listagem de materiais químicos e detalhamento de sua utilização, a fim de evitar possíveis danos causados pelo uso inadequado.
17. Toda esta documentação comporá um dossiê, propriedade intelectual do conservador, que passará a ser parte integrante do bem cultural em questão.


3. Relação com proprietário ou responsável legal
18. O restaurador tem a liberdade de contratar seus serviços com particulares, instituições, órgãos governamentais etc, contanto que este contrato ou acordo não contrarie os princípios aqui definidos e tendo a liberdade de escolha do critério técnico e filosófico de restauro, que julgar mais adequado à obra
19. O estabelecimento da remuneração por um trabalho a ser realizado deve ser justo, tendo em vista o respeito ao proprietário ou responsável legal e à profissão. Para estabelecer um preço é correto considerar:
Ø tempo e mão de obra necessários
Ø custo do material a ser empregado
Ø despesas fixas
Ø custos de análises científicas e pesquisas históricas
Ø custo de seguro (se houver)
Ø grau de dificuldade do tratamento a ser executado
Ø riscos pessoais e insalubridade
Ø problemas advindos do tratamento de objeto de excepcional valor
Ø despesas com embalagem e/ou transporte
Ø preço de mercado para trabalhos semelhantes
Ø periodicidade do serviço: permanente ou esporádico.
20. A situação financeira do proprietário não justifica a elevação do preço em relação ao trabalho executado.
21. O conservador-restaurador não deve supervalorizar nem desvalorizar seus serviços. A peculiaridade de cada caso impede o estabelecimento de tabelas de padronização de tarifas a serem cobradas.
22. Alterações no custo de um serviço contratado, bem como modificações no tratamento previsto, só podem ser feitas com o conhecimento e aquiescência do proprietário ou responsável legal.
23. O conservador-restaurador deve ter em mente que o proprietário ou responsável legal é livre para selecionar, sem influências ou pressões, o serviço do restaurador ou restauradores de sua confiança e com a mesma liberdade trocar de um para outro. Entretanto, uma vez o serviço contratado verbalmente ou por escrito, nenhuma das partes pode eticamente romper este contrato, a não ser de comum acordo.
24. Tendo em vista que raramente o proprietário tem suficiente conhecimento para julgar o que se faz necessário para a conservação da obra que possui, o conservador-restaurador deve com sinceridade e honestidade expor o tratamento que considera adequado ao caso. Pela mesma razão deve se negar a realizar ações que sejam requisitadas, mas que possam por em risco, desfigurar, ou comprometer a integridade e autenticidade da obra.
25. O conservador-restaurador deve informar o proprietário ou responsável legal sobre os meios adequados para a sua manutenção futura, incluindo questões referentes ao transporte, manuseio, armazenagem e exposição.
26. Uma vez solicitado a executar um trabalho, o conservador-restaurador deve estabelecer um prazo aproximado para término e devolução da obra, e fazer o possível para respeitá-lo.
27. Mesmo considerando que o conservador-restaurador empregue o máximo de seus conhecimentos e de sua habilidade para conseguir os melhores resultados no tratamento de uma obra, não seria excessivo o fornecimento de garantia pelo serviço realizado. Isto, entretanto, não impede que o mesmo se prontifique a corrigir alterações não previstas ou prematuras que possam ocorrer, desde que estejam observadas as recomendações de conservação mencionadas no “item nº25” deste documento, sem que para isto cobre remuneração extra.
28. O conservador-restaurador é obrigado a manter confidencialidade profissional. Sempre que queira fazer referência a um bem cultural deve obter o consentimento do proprietário ou legal responsável, salvo para fins didáticos ou científicos.


4. Relação com o público
29. O conservador-restaurador deve usar as oportunidades que se apresentarem para esclarecer o público sobre as práticas de preservação e as razões e meios da restauração.
30. O conservador-restaurador, quando solicitado, deve prestar esclarecimentos e dar conselhos àqueles que forem vítimas de práticas negligentes ilegais ou antiéticas, salvaguardando a honorabilidade da profissão.
31. Fazer “expertise” ou autenticação remunerada não é considerada atividade apropriada ou ética para um conservador-restaurador, embora seu trabalho de exame e restauração de uma obra o tornem habilitado a contribuir para o conhecimento de sua história e autenticidade.
32. Propaganda feita através de jornais, revistas etc, não é condenável desde que não envolva comparação de habilidades ou preços com outros profissionais.

5. Relação com colegas e com a profissão
33. O conservador-restaurador deve manter um espírito de respeito aos colegas e à profissão.
34. O conservador-restaurador deve, dentro dos limites do seu conhecimento, competência, tempo e meios técnicos, participar da formação de estagiários e assistentes. Os direitos e objetivos do instrutor e do aprendiz devem ser claramente estabelecidos por ambos, que firmarão um acordo formal, do qual constarão itens como remuneração, duração do treinamento e áreas de abrangência do mesmo. Do certificado a ser emitido devem constar nome da instituição e do responsável pelo curso ou estágio, conteúdo do aprendizado e carga horária. O conservador-restaurador é responsável pela supervisão do trabalho realizado pelos assistentes e estagiários, devendo responsabilizar-se igualmente pelo resultado deste trabalho.
35. O conservador-restaurador contribuirá, compartilhando suas experiências e conhecimentos, com os colegas de profissão. O criador de novos métodos de tratamento ou novos materiais prestará esclarecimentos sobre a composição e as propriedades de todos os materiais e técnicas empregadas, salvaguardados os direitos de patentes de propriedade do criador. Os registros relativos à conservação e restauração pelos quais o conservador-restaurador é responsável são a sua propriedade intelectual.
36. O conservador-restaurador não deve dar referências ou recomendação de uma pessoa candidata a um posto de profissional a não ser que esteja absolutamente seguro do treinamento, experiência e habilidade que a qualifiquem para tal.
37. Se no decorrer de um tratamento o restaurador se defrontar com problemas que lhe suscitem dúvidas ou incertezas, este deve, sem hesitação e apoiado pelos preceitos da ética profissional, recorrer a outro colega que o auxilie na solução do problema.
38. É considerado anti-ético dar comissão a outro conservador ou qualquer outra pessoa pelo encaminhamento ou recomendação de um cliente. A divisão de remuneração só é aceitável quando existe a divisão de tarefas.
39. Nenhum membro de qualquer uma das associações profissionais da área pode emitir parecer ou falar em nome destas, a não ser quando para isto designado por votação efetuada em reunião da diretoria e/ou instâncias apropriadas de cada associação.
40. Caso surjam situações não mencionadas neste documento, o conservador-restaurador deverá consultar-se com as associações representativas da categoria.




O presente texto foi elaborado a partir dos Códigos do International Council of Museums - ICOM, do American Institute of Conservation - AIC, do European Federation of Conservator-Restorers’ Organizations – ECCO e de DUVIVIER, Edna May de A, Código de Ética: um enfoque preliminar, in: Boletim da Associação Brasileira de Conservadores-Restauradores de Bens Culturais – ABRACOR, Ano VIII, N. 1 – Julho/1988, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.







 

Un livre superbe


Quem busca literatura sobre restauração de arte , sabe que não existem ainda muitas publicações por aí . Um livro maravilhoso que consegui comprar nas lojinhas do Museu do Louvre é o "Manuel de Restauration des Tableaux "
de Knut Nicolaus .



Além de completo , as fotos e ilustrações são belíssimas . Tem tópicos bem explicativos sobre todas as etapas da restauração . Desde os suportes , camadas pictóricas , reentelamento , reintegração cromática e vernizes .


 


Existem traduções deste livro para outros idiomas, como o espanhol. O meu é em francês , e não é difícil de entender , nada que um bom dicionário do lado não resolva .


J'espère que vous profitez ! rs





 "Caros colegas , não estou vendendo esse livro , ok ? Estou apenas indicando . Se quiserem é só procurar nos sites pelo nome do autor que ele está a venda . Abraços ."







Restauração - Ciência e Arte



Para todos os estudantes de conservação e restauro , eu indico este livro . Faz parte dos livros favoritos da estante do meu ateliê .


 de Marylka Mendes e Antonio Carlos N. Baptista (orgs.)


O livro conta com a contribuição, motivada por uma proposta didática, de profissionais de diversas áreas ligadas à conservação e à restauração – como historiadores, químicos, engenheiros e biólogos ,  além da tradução de trabalhos de dois especialistas estrangeiros, considerados experts no assunto.

Nele encontramos tópicos sobre os solventes , propriedades físicas e químicas ; principais solventes utilizados na restauração ; métodos das limpezas das pinturas ; restauração de obras de arte metálicas entre outros assuntos bem interessantes . 


Como o " Triangulo da Solubilidade " :




Não deixem de ler e reler sempre que precisarem este livro . A restauração é arte mas também é ciência , pesquisa , estudo , dedicação e paciência .





" Caros colegas , não estou vendendo esse livro , ok ? Estou apenas indicando . Se quiserem é só procurar nos sites pelo nome da autora que ele está a venda . Abraços . "




Um procedimento básico antes da restauração



Um recurso muito interessante que nós conservadores/
restauradores usamos para analisar uma obra de arte antes de restaurá-la , é a luz ultravioleta . Com ela vemos as intervenções posteriores que a pintura ou escultura pode ter sofrido . É um procedimento comum que às vezes nos deixa bastante surpresos .

Criada durante a Segunda Guerra Mundial, pelo inventor americano, Philo Farnsworth (1906-1971), considerado o pai da televisão, a luz ultravioleta tinha a intenção original de melhorar a visão noturna e também costuma ser utilizada para identificar falsificações em documentos ou cédulas de dinheiro .

Quando olhamos uma tela reparamos nas cores , no desenho , nos envolvemos com a pintura e normalmente não conseguimos enxergar o que é original e o que foi alterado .

Com a luz ultravioleta às vezes podemos detectar até assinaturas falsificadas e mudanças drásticas na pintura , não feitas pelo o artista . Muitas tintas atualmente contém fosforosos que brilham sob a luz ultravioleta , enquanto que a maioria das tintas antigas não . Assim como as massas de nivelamentos dos restauros anteriores .

Aqui temos um exemplo de um detalhe de uma tela de Benedito Calixto ,  como a vimos normalmente e com a luz ultravioleta :

Foto com luz do dia (Mariana Giurno)


 Foto com luz ultravioleta (Mariana Giurno)

Em uma sala escura a luz ultravioleta é colocada sob a pintura , podemos ver manchas mais escuras , onde certamente foi alterada a camada pictórica original . Com este diagnóstico feito , conseguimos fazer a limpeza da tela de um modo mais preciso , retirando primeiramente a sujidade , o verniz oxidado e depois as repinturas,  sabendo exatamente onde estão .



Agora que vocês sabem disto , não dá uma vontade de sair por aí , indo em todas as exposições de arte com uma luz ultravioleta portátil no bolso ?



Uma obra de Giotto sendo analisada com luz ultravioleta :








Preservação e Análise de Obras de Arte - Perícia



Sou a mais nova futura Pós Graduada  , estou muito feliz e com a certeza que esta pós graduação irá acrescentar ainda mais nos meus 17 anos de experiência em conservação e restauro . É sempre bom reciclar os conhecimentos e adquirir novos . Aprender nunca é demais !


Compartilharei com vocês um pouco do que aprenderei neste curso . Serão 2 anos e meio de duração , com os melhores professores da área .









Procuram-se santos , anjos e querubins


Como restauradores , trabalhamos com todo tipo de arte e muitas vezes não sabemos nem quem é o proprietário da obra ou peça muitas delas sacras , que nos foi enviada para restauro , temos que fazer nossa parte e estar atentos para sua procedência . Não custa nada dar uma olhadinha no site dos "procurados" . Assim ajudamos nossa história ser resgatada e não apenas decorar o lar de alguns poucos "espertos" .

Foto : Banco de dados de bens culturais procuradas IPHAN


O Banco de Dados de Bens Culturais Procurados está em nova versão, revisado e atualizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Esse novo sistema foi elaborado a partir de 2005, com o objetivo de agilizar a divulgação de informações sobre os bens culturais tombados e objetos arqueológicos extraviados, furtados ou roubados para facilitar sua rápida recuperação. O banco de dados se baseia em informações integradas e articuladas entre as Superintendências Regionais, o Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do IPHAN, a Polícia Federal/Interpol e o público.

O conjunto de dados dos bens culturais tombados procurados favorecerá as ações de vistoria e fiscalização. Também apresentará informações sistematizadas que proporcionarão relatórios necessários para elaboração de estudos, planos e projetos, especialmente de segurança dos acervos. Ainda proporcionará o acompanhamento dos dados administrativos e jurídicos das ocorrências de extravio, furto, roubo e/ou resgate.


O Banco de Dados de Bens Culturais foi criado em 1997 e faz parte da Luta Contra o Tráfico Ilícito de Bens Culturais, campanha da Unesco que vem sendo desenvolvida com o Iphan em conjunto com a Polícia Federal/ Interpol. O seu intuito é de recuperar e devolver aos lugares de origem os bens culturais tombados extraviados, furtados ou roubados. O êxito deste importante trabalho também conta com a preciosa participação dos proprietários dos bens culturais tombados, que devem observar as determinações do Decreto-lei nº 25, de 30/11/1937:


“Art. 16 – No caso de extravio ou furto de qualquer objeto tombado, o respectivo proprietário deverá dar conhecimento do Fato ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez por cento sobre o valor da coisa;
Art. 21 – Os atentados cometidos contra os bens de que trata o Art. 1º desta lei são equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.”


Consulte o banco de dados de bens culturais procurados e ajude a resgatar peças do patrimônio cultural brasileiro, que pertencem a todos os cidadãos e estão desaparecidas.


Veja o link :  http://portal.iphan.gov.br/consultaPublicaBCP/index.jsf
Se você tiver alguma informação sobre estes bens, mande um e-mail, escreva ou telefone para:


Polícia Federal
SCS Quadra 02 - Edifício Serra Dourada – 4 Andar
Brasília – DF
CEP: 70300-902
Telefones: (61) 3321-8487 – 3321-8321
FAX: (61) 3321-2646
e-mail: interpol@dpf.gov.br


Iphan
Gerência de Bens Móveis e Integrados
Palácio Gustavo Capanema
Rua da Imprensa, 16 sala 910
Rio de Janeiro – RJ
CEP: 20013-120
Telefones: (21) 2220-4646 R.227/228 / 2524-0482 / 2262-1971








Você sabe o que são cusquenhos ?


A ARTE CUZQUENHA :

Com a conquista de Cuzco pelos espanhóis, em 1534, inicia-se uma profunda transformação na história política do Império Inca, como também um novo capítulo em sua história da arte.


A pintura cusquenha surge como arte eclesiástica e sua finalidade principal foi didática - sobretudo catequética, uma vez que os espanhóis, com o crescente processo de apropriação das riquezas da nova colônia, partem para a conversão das almas pagãs à religião católica.


A imagem era - aliada à palavra - o único meio bastante eficaz de transmitir o catolicismo. Apostando na evangelização dos povos da comunidade incaica, a Espanha envia um grupo de religiosos artistas para a criação de obras doutrinárias, formando escolas de pintores índios ou mestiços, com o ensino da arte do desenho e do óleo.


O termo "cusquenho", no entanto, não se limita a Cuzco, origem destas pinturas coloniais hispano-americanas, que foram produzidas igualmente em outros países andinos, como Bolívia e Equador, entre os séculos XVI a XVIII. A denominação se generalizou mais por ser a cidade de Cuzco, no Peru, a capital e o centro do Império Inca. De qualquer forma, a Escola de Cuzco é considerada como o primeiro centro pictórico organizado no chamado Novo Mundo.


Os temas cusquenhos - exclusivamente religiosos - são os mesmos do italiano Fra Angelico - na primeira metade do século XV e dos mestres de Pisa e Siena na Idade Média: cenas bíblicas da tradição católica - a glorificação de Jesus, Virgem Maria e Santos, Juízo Final, com as glórias do Paraíso e a danação do Inferno.

Foto : Bank Boston

Os cusquenhos ignoram a perspectiva e preferem o vermelho, o amarelo e as cores terrosas. Dão ênfase à beleza física das figuras agigantando os santos para reduzir os seus devotos a pontos minúsculos nas telas. Criam a impressão de volume estatuário dos mantos suntuosos e dão contorno de monumento a cortinas e colunas.


Mesmo sofrendo influência das escolas bizantina, flamenga e renascentista italiana, os cusquenhos peruanos mostram uma liberdade desconhecida dos europeus: cores vivas, imagens distorcidas para dar maior dramaticidade à cena, sobre fundo ilustrado com fauna e flora dos Andes adornado com anjos e arcanjos.


Ignora-se a autoria da maioria destes trabalhos, dada a tradição dos povos pré-colombianos, cuja arte era essencialmente comunitária e ritual.


Tive o privilégio de participar da restauração desses cusquenhos do Bank Boston , e fico feliz em saber que atualmente pertencem ao acervo do Museu Histórico Nacional .

 fonte : http://www.museuhistoriconacional.com.br/mh-e-330f.htm







Sobre a história da restauração


Achei este texto interessante para quem quer saber mais sobre restauração.


PEQUENO RESUMO DA HISTÓRIA DA CONSERVAÇÃO/ RESTAURAÇÃO


Baseado no livro de Ana Maria Macarrón Miguel “Historia de la conservación y la restauración: Desde la antigüedad hasta finales del siglo XIX.”

Os antigos gregos já priorizavam a conservação de suas obras, praticando a Conservação Preventiva, pois faziam a seleção de materiais e técnicas para a execução de suas esculturas e pinturas. Os templos tinham o papel dos museus, onde as esculturas e outras peças eram inventariadas e as esculturas arcaicas eram enterradas. A Restauração era praticada para recompor partes de peças que eram danificadas pelas guerras e roubos.

Na Roma antiga, a prática do colecionismo indicava poder social e político. As coleções eram privadas, e as obras eram modificadas ao serem obtidas. Faziam-se cópias e reproduções e praticavam-se intervenções drásticas, como a transposição de pinturas murais para painéis de madeira. Os romanos, pela dominação territorial extensa, absorveram várias culturas e religiões, modificando-as. Buscavam a imortalidade da matéria. Devido a isso, a restauração era vista como magia, pois o restaurador era aquela pessoa especial que dava vida à obra através do realismo obtido pelas intervenções. O restaurador tinha cargo público: curator statuarum.

Na Idade Média, a Conservação/Restauração estava ligada à recuperação de materiais. A pobreza e a falta de matéria-prima levavam à destruição de monumentos e à refundição de esculturas e peças de metal; buscavam-se recuperar pedras e peças de monumentos abandonados; os templos, termas e teatros serviam como canteiros de obtenção de mármores; fragmentos e esculturas inteiras de mármores eram queimados para a fabricação da cal utilizada na argamassa. As obras sofriam intervenções “utilitárias” ou de gosto, e o restaurador era considerado o artista, pois as “corrigia”.

Inicia-se então um grande desenvolvimento de técnicas e do fazer artesanal, com o qual aparecem os primeiros tratados técnicos, fruto das experiências dos monastérios, como o Libro Del Arte, de Cenino Cennini (séc. XIV), sobre técnicas pictóricas.

Com o Renascimento, a Restauração fez prevalecer a instância estética sobre a histórica, através de inserções e renovações que mudam o significado iconográfico das obras: há uma busca de avanços tecnológicos e emprego de materiais distintos dos do original mas com o intuito de depois igualá-los através de pátinas; há presença de um colecionismo conservador e recuperador, motivado pelo gosto classicista; surgem falsificações através de intervenções que se aproximam do original, e são motivadas pelo gosto dos antiquários; ocorrem modificações no tamanho e formato das obras, devido à mudança de gosto e também às trocas de coleções, assim como, nas imagens, por meio de transformações mais realistas e também pelas mudanças de fundos; as intervenções relacionadas à religião alteram as obras por razões de culto, seja para valorizar o santo ou para substituí-lo por outro cuja devoção fosse mais atual; imagens consideradas indecentes são destruídas; imagens religiosas com grandes lacunas são queimadas em nome do respeito; proíbem-se as imagens de nus, nas quais são colocados vestidos e “panos de pureza”.

No Barroco, a Conservação/Restauração adquire um caráter mais específico devido à definição, pelo mercado, das diferenças entre artista e restaurador; buscam-se novos materiais, técnicas e teorias sobre as possibilidades e os limites da restauração da matéria e sobre o valor histórico e cultural das obras; ocorrem avanços nas técnicas de restauração dos suportes e de limpezas; as transposições e marouflages passam a ser amplamente utilizadas; valorizaram-se a pátina do tempo; há uma difusão de produtos devido aos receituários; a reintegração cromática é realizada, de forma ilusionista através de repintura com os mesmos materiais do original; esculturas são complementadas e patinadas; iniciam-se uma busca por materiais reversíveis, e continuam as mudanças formais e de tamanho, de acordo com o gosto da época.

No final do século XVIII e no século XIX, com o Classicismo, a Conservação/Restauração vincula-se ao sentimento de patrimônio cultural coletivo: criam-se museus e academias; controlam-se as intervenções nas obras; as coleções são abertas ao público, e os museus adotam políticas pedagógicas” em relação aos visitantes; surge a definição de museu: “local onde se guardam várias curiosidades pertencentes às ciências, letras e artes liberais”.

Na pintura, buscam-se materiais mais estáveis, experimentando-se diversos aglutinantes, com preferência para as têmperas e encáusticas, pelo seu não-amarelecimento e não-escurecimento; há uma maior compreensão sobre as alterações das cores devido ao tempo e sobre a instabilidade de determinados pigmentos como o azul da Prússia; surgem novos pigmentos brancos, como o branco de zinco que substitui o branco de chumbo; a cera é usada, na frente e no verso da pintura, como camada de proteção contra umidade; iniciam-se os estudos sobre a oxidação dos materiais; inspetores do Estado controlam os trabalhos dos restauradores e classificam as obras de acordo com as suas deteriorações; produtos corrosivos deixam de ser utilizados, dando-se prioridades às cores; realizam-se reentelamentos, limitam-se as reintegrações cromáticas somente às lacunas, proíbem-se a eliminação de partes do original e de inscrições; transposições passam a ser realizadas somente nos casos de obras muito danificadas; o restaurador não pode levar cópias ou qualquer trabalho para seu ateliê e a circulação no local da restauração passa a ser restrita; algumas pesquisas científicas começam a ser realizadas em ateliês; novos critérios são estabelecidos, tais como, respeito máximo ao original, valorização do suporte, diminuição das transposições, reintegração ilusionista.

A Revolução Industrial traz grandes avanços tecnológicos, com a produção de materiais industrializados. Com o surgimento dos movimentos “neo”- neoclássico, neogótico -, resgatam-se movimentos antigos.

Alguns nomes consagram-se nessa época, como referência a estilos de restauração. Eugène Violet-Le-Duc, arquiteto, defende a restauração estilística, fazendo reviver o estilo neogótico; seu projeto baseia-se na busca pelo original e a perfeição formal dos edifícios deixando de lado a sua história. John Ruskin valoriza a arquitetura e seus critérios de conservação/restauração; para ele, o verdadeiro valor do edifício está nos materiais e na sua historicidade; partidário da conservação preventiva e da conservação in situ, enfatiza o papel do ambiente e da luz sobre as esculturas e talhas.


Já a Escola Italiana, partidária da restauração científica, defende a consolidação do que ainda existe, condenando a eliminação dos anexos históricos e preconizando a realização apenas de intervenções mínimas e reconhecíveis; os laboratórios de ciências instalam-se dentro dos ateliês de restauração.

No século XX os critérios e teorias sobre conservação e restauração de obras de arte são definidos. Surgem questões jurídicas na defesa do patrimônio e a regulamentação da profissão de restaurador. Com a arte contemporânea, os procedimentos e teorias da conservação/restauração são revisados.

Em 1930, iniciam-se o estudo sistemático da estrutura e a valorização da documentação; com a Segunda Guerra Mundial, destrói-se parte importante do patrimônio europeu; a Restauração sai do empirismo e busca bases científicas; são feitos estudos sobre comportamento mecânico da pintura sobre tela; o respeito ao original ganha máxima importância; a intervenção é feita de acordo com a necessidade da obra, priorizando-se a conservação; desenvolvem-se estudos sobre a influência do clima na conservação das obras de arte; aparecem conceitos como Reversibilidade, Estabilidade e Legibilidade; a Restauração passa a cuidar não só das obras de arte, mas também dos bens culturais; são criados centros e institutos internacionais como: o IRPA - Institut Royal do Patrinoine Artistique (Bruxellas,1937), o ICR - Istituto Central del Restauro (Roma, 1940), o ICOM - International Council of Museum (Paris,1946), IIC - International Institut for Conservation (Londres, 1950) e o ICCROM - Centro Internacional para o Estudo da Conservação e da Restauração (1956).

Em 1963 Cesare Brandi publica La teoria de la restauración e, em 1964, a Carta de Veneza estabelece novas regras para a restauração de monumentos.

Surgem questões jurídicas na defesa do patrimônio e a regulamentação da profissão de restaurador.

Hoje, com a arte contemporânea, novas teorias estão sendo formuladas e os estudos científicos crescem a cada dia por meio de novas tecnologias voltadas para física, química e biologia a serviço da conservação e preservação da obra de arte.

É importante ressaltar que a conservação preventiva da obra de arte é fundamental para que a mesma não chegue a sofrer intervenções de restauro.

As obras de arte também envelhecem, e desse modo, devemos sempre ter cuidados para que ela não sofra com alterações ambientais, com vandalismos e principalmente com o esquecimento.



por Luciana Bonadio


MIGUEL, Ana Maria Macarrón. Historia de la conservación y la restauración: desde la antigüedad hasta finales del siglo XIX.”. Madrid: Tecnos, 1995.
 
 
 

O rosto do artista


" O melhor uso da vida consiste em gastá-la por alguma coisa que dure mais que a própria vida."

Esta frase que adoro do Willian James tem muito significado , especialmente quando falo dos irmãos Gentilis , Pietro e Ulderico.


Através deste bolg conheci uma pessoa especial , que veio de Vitória - ES , para obter mais informações sobre o trabalho destes artistas . E lógico , indiquei as Igrejas daqui para ela visitar , e como sempre , tendo ou não uma desculpa boa para ir a São Roque , levei esta minha nova amiga até a cidade ver a Igreja Matriz , com o maior prazer !


E foi maravilhoso estar lá novamente . A Igreja continua linda , claro . As pessoas , sempre carinhosas e hospitaleiras , encontrei o Zé do Nino , figura importante da cidade , quem cuida praticamente de tudo que é histórico e cultural de lá e quem nos achou , Anchieta e eu por tabela , para restaurar a Igreja Matriz . Ele nos levou até a casa de Murilo Silveira , dentista e pintor que teve aulas com o Pietro Gentili , quando o artista estava na cidade . Uma pessoa maravilhosa , senso de humor afiado e papo bom demais .


Então conversa vai , conversa vem ... E um pouco da memória deste grande artista vai aparecendo.


Finalmente eu vi uma copia de uma foto do Pietro Gentili !




Muito bacana ver pela primeira vez este rosto , depois de conhecer a fundo suas pinturas restaurando e observando seus traços perfeitos bem de pertinho , e as suas maravilhosas combinações de ornamentos e cores .

E Murilo ainda nos deu muito mais informações , olhem só ! Uma cópia do diploma do curso de pintura na Itália !


E mais ainda , vi trabalhos do Pietro que não são pinturas sacras , uma paisagem e um cartaz que ele fez para um concurso da Fiesp ( ficou em 2° lugar ) .






Realmente maravilhosos , pena que não se encontrem muitas informações sobre Pietro Gentili , por isso divido com vocês um pouco do que sei e do que descubro !

Pietro Gentili nasceu em Montecompatri - Itália em 03/10/1903 , formou-se no " Collegio Artigianelli" em Torino , chegou ao Brasil em 1927 e faleceu em 08/08/1968 .

Trabalhos executados : Igreja Imaculada Conceição S.P.  , Igreja Santo Antonio -Santos , SP , Seminário Maior S. José - Mariana MG , Igreja Matriz Maria da Fé - MG , Capela Colégio dos Anjos - Botucatu SP , Matriz de Cassia - MG , Igreja Sagrada Familia - S. Caetano do Sul , Matriz de S. Sebastião do Paraíso MG , Altar Mor da Igreja Coração de Jesus - SP , Igreja dos Franciscanos - Piracicaba SP , Igreja Matriz de São Roque - SP , Igreja Santa Teresinha - SP , Igreja Nossa Sra. da Achiropita SP , Capela da Igreja do Calvário - SP , Igreja Matriz de Americana - SP . Vários desenhos e pinturas em diversas técnicas .


Nas minhas postagens mais antigas falo sobre o trabalho de restauração da Igreja Matriz de São Roque , dêem uma olhadinha lá !




Ao mestre com carinho




É muito gratificante trabalhar com quem a gente gosta , mais ainda quando você pode dar o melhor de si e ser valorizado . Acabei de fazer mais um trabalho apaixonante , ajudei no retoque de uma Imagem em madeira do séc. XIX , de origem provavelmente alemã . Eu estou bastante feliz com o resultado final . E o melhor , meu mestre Anchieta também ficou encantado com a rapidez que consegui resolver um retoque bem difícil . Tem vezes que é assim mesmo , o trabalho flui de uma maneira quase intuitiva , e quando a afinidade entre patrão e contratado é boa , isso só ajuda o trabalho ficar melhor .

Anchieta e eu fizemos a Igreja Matriz de São Roque juntos , e outros tantos trabalhos posteriores . Só posso ter orgulho e uma imensa gratidão deste ser humano maravilhoso . Quem o conhece sabe do que estou falando . Sua calma , seu detalhismo , sua habilidade e técnica em restaurar imagens em madeira e pinturas murais é única . Quase ninguém é capaz de esculpir um dedo , uma parte de um manto tão bem como ele , de retirar uma pintura mural de seu local de origem , para colocar em outro lugar ! Eu fico só babando quando vejo ele trabalhar .

Diferente de outras pessoas que conheço , Anchieta consegue valorizar sempre quem trabalha com ele . Esta lição eu aprendi bem , e quem eventualmente trabalha comigo é bem mais que um " funcionário " , é um ser humano , com suas habilidades e falhas  , mas também é um amigo(a) . Que precisa de apoio e valorização sempre para poder dar o seu melhor . ( Ná , Jack , Naty , Jé ... adoro vcs ! )

Então esta postagem é uma homenagem a esta pessoa maravilhosa , a quem tive a sorte de conhecer bem no início da minha carreira , e a quem devo um pouco de tudo que sou . Obrigada ! Estaremos sempre juntos , em algum trabalho por aí . Sei que eu posso contar com a sua experiência , técnica , habilidade e muito mais que isso , posso chamá-lo de AMIGO e de MEU MESTRE !


Se quiserem entrar em contato com ele é só me mandar um e-mail que encaminho , ok ?

marianagiurno@hotmail.com